Ela





Masahisa Fukase,  Sarobetsu, Hokkaido, 1971.
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A infinita paz de espírito era um assunto que a perturbava. Não pretendia o eremitismo, muito menos a recusa dos prazeres da vida em virtude de um nirvana de que muito duvidava. Mas encerrava-se quieta dentro de si numa curiosidade lenta pela paz, pelas noites tranquilas, pela alegria fácil.

Era de natureza ansiosa. Amante de viagens, não raras vezes sonhava - com a caneta ou com a ideia - deitada na cama, sem sono sem personalidade, num pasmo propositado de visões.

Imaginava montanhas altas sob a chuva, oceanos em fúria, velhos solares em ruínas - onde se perdiam vidas sem querer.

Não fazia muitas perguntas, caminhava longas distâncias e falava alto sozinha.

Chorava todas as manhãs, como uma necessidade fisiológica, inadiável. Baixinho, abafando a voz das lágrimas.

A natureza, para ela, era um um não-lugar, onde se calava porque queria, e não porque tinha de ser.

Pouco falava do que sentia aos amigos - o que lhe conferia um caráter reconhecidamente bravio e escorregadio. Mas ouvia-os. Ouvia-os silenciosa e hirta como as árvores.

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