José Ortega y Gasset,
O que é a Filosofia?
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«Queremos uma filosofia que seja
filosofia e nada mais, que aceite o seu destino, sem o seu esplendor e a sua
miséria, e não torça os olhos, invejosa, querendo para si as virtudes
cognoscitivas que outras ciências possuem, como é a exactidão da verdade
matemática ou a comprovação sensível e o praticismo da verdade física. Não foi
casual que no último século fosse o filósofo tão infiel à sua condição. Foi característico desses tempos no Ocidente não aceitar
o Destino, querer ser o que não se era. Por isso foi uma época
constitutivamente revolucionária. Em sentido último, 'espírito revolucionário'
significa não somente anseio de melhorar - coisa que é sempre excelente e nobre
-, mas crer que se pode ser sem limites o que não se é, o que radicalmente não
se é, que basta pensar numa ordem do mundo ou da sociedade que parecem óptimas
para que devamos realizá-las, não reparando que o mundo e a sociedade têm uma
estrutura essencial imutável, a qual limita a realização dos nossos desejos e
dá um carácter de frivolidade a todo o reformismo que não conte com ela. O
espírito revolucionário que tenta utopicamente fazer que as coisas sejam o que
nunca poderiam ser nem têm razão para ser, é preciso que seja substituído pelo
grande princípio ético que Píndaro liricamente apregoava e diz, sem mais,
assim: "Chega a ser o que és."»