impermanência



Bill Bryson, Breve História de Quase Tudo.
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Se imaginássemos a história da Terra, com os seus 4500 milhões de anos comprimidos num dia normal de 24 horas, a vida começaria muito cedo, por volta das quatro horas da madrugada, com o aparecimento dos primeiros organismos unicelulares simples, mas depois não avança mais durante as 16 horas seguintes. Só quase às 20.30, depois de terem passado cinco sextos do dia, é que o planeta tem alguma coisa concreta para mostrar ao universo, uma fina camada de irrequietos micróbios. Depois, finalmente, aparecem as primeiras plantas marinhas, seguidas, 20 minutos mais tarde, das primeiras alforrecas e da enigmática fauna ediacarana [...]. Pouco antes das 22.00, começam a surgir as plantas em terra. Pouco tempo depois, a menos de duas horas do fim do dia, surgem os primeiros seres terrestres. Graças a uns dez minutos de clima ameno, às 22.24 a Terra está coberta de grandes florestas carboníferas cujos resíduos nos fornecem todo o nosso carvão, e manifestam os primeiros insetos voadores. Os dinossauros aparecem em cena, caminhando pesadamente, pouco antes das 23.00 [...]. Aos 21 minutos para a meia-noite desaparecem e começa a era dos mamíferos. Os humanos surgem um minuto e 17 segundos antes da meia-noite. Nesta escala, a totalidade da nossa existência não seria mais do que alguns segundos, e a duração de uma única vida humana apenas um instante. [...] Talvez uma forma mais eficaz de compreender até que ponto somos recentes neste quadro com 4,5 biliões de anos, seja abrindo os braços ao máximo e imaginando que essa distância corresponde a toda a história da Terra. Nessa escala, segundo John McPhee em Basin and Range, a distância entre as pontas dos dedos de uma mão e o pulso da outra é o período pré-câmbrico. A totalidade da vida complexa cabe numa só mão, e "numa só passagem com uma lima de unhas podíamos erradicar toda a história humana". Felizmente, esse momento ainda não aconteceu, mas há boas hipóteses de vir a acontecer. Não pretendo lançar uma nota lúgubre neste ponto, mas o facto é que a vida na Terra tem uma outra qualidade muito pertinente: extingue-se. Com bastante frequência. Quando pensamos em todos os esforços que as espécies fazem para se reunir e preservar, é notável a facilidade com que se desmantelam e morrem. E quanto mais complexas se tornam, mais depressa parecem extinguir-se. O que talvez possa explicar a razão pela qual há tanta vida com tão poucas ambições.